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14/05/2018

Crise argentina pode reduzir exportações

Crise argentina pode reduzir exportações

 A crise cambial na Argentina pode levar à redução das exportações brasileiras de carros e peças para o país vizinho, segundo avaliação de especialistas. Atualmente, a participação da Argentina nas exportações brasileiras é de cerca de 8% e a maior parte é do setor de veículos. De janeiro a abril, as exportações totalizaram US$ 74,299 bilhões. Desse total, US$ 6,060 bilhões são referentes à Argentina. Dos produtos exportados para a Argentina, cerca de 33% são automóveis. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informou que ainda não tem uma previsão de quanto podem cair as exportações com a crise. A associação disse apenas que 76% das exportações do setor vão para a Argentina, seguido do México (7%), Chile (5%), Uruguai (4%), Colômbia 3% e Peru (2%). O ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral lembra que a Argentina é o principal importador de produtos manufaturados no Brasil. "Os principais produtos são automóveis e peças de carro. Evidentemente, uma crise na Argentina afeta esses setores", disse. Para Barral, se a Argentina conseguir o empréstimo no FMI, o nível de especulação cambial diminuirá, o que fará com que o país não diminua muito as importações. Entretanto, Barral disse que o efeito da crise argentina no Brasil deve ficar restrito a esse segmento, sem contagiar toda a economia brasileira. "O Brasil tem reservas internacionais altas, inflação relativamente sob controle. Então, o Brasil não está na mesma situação da Argentina. Mas em termos de exportações, sim. O Brasil pode ser afetado pela queda das exportações", disse. Segundo Barral, a competitividade do setor automotivo brasileiro é maior na Argentina por conta do Mercado Comum do Sul (Mercosul). "Os produtos brasileiros não pagam imposto de importação na Argentina", explicou. Além disso, ele disse que o mercado argentino é maior do que de outros países. "Enquanto na Argentina tem um mercado de 42 milhões de pessoas, no Uruguai, por exemplo, são 3 milhões", disse. A pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) Lia Baker Valls Pereira também avalia que o efeito da crise argentina no Brasil se restringirá à balança comercial. "No Brasil, a exportação não é o principal elemento do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todos os bens e serviços produzidos no país). A Argentina é a terceira importadora do Brasil. É muito localizado, afetaria mais a exportação de automóvel", avaliou a pesquisadora. "O empréstimo do FMI vem cheio de restrições. A Argentina tem um problema de déficit fiscal, déficit externo, tem inflação alta. A Argentina vai se comprometer a um controle inflacionário e fiscal mais austero", disse. Lia acrescentou que o presidente argentino Mauricio Macri optou por fazer um ajuste gradual na economia, mas não conseguiu. No último dia 8, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirmou não há possibilidade de "contágio" da crise argentina no Brasil. "Nós temos uma situação externa extremamente confortável, um déficit em conta-corrente pequeno, que é financiado por investimentos diretos estrangeiros. Temos reservas extremamente elevadas, de US$ 383 bilhões. Não vejo nenhum impacto. A situação (do Brasil) é completamente diferente da Argentina", disse. População vê medidas implementadas pelo governo com muita desconfiança Antes de recorrer ao FMI, o governo Macri tentou segurar a cotação da moeda vendendo reservas internacionais - já foram US$ 8 bilhões nas últimas semanas, tendo sobrado US$ 54,4 bilhões -, elevando a taxa básica de juros três vezes em oito dias, chegando a 40% ao ano, e reduzindo a meta do déficit fiscal de 3,2% para 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB). O mercado, porém, continua bastante volátil. Graciela Cingolani afirma achar difícil que Macri consiga convencer os investidores a deixarem seu dinheiro no país, já que membros do próprio governo mantêm recursos fora. Segundo dados da Receita argentina, do patrimônio total do alto escalão do governo, 43% estão no exterior. "Que segurança tem um país onde os ministros mantêm seu dinheiro fora?", questiona a aposentada. Ela e o marido também estão entre a grande parte dos argentinos que não acredita no sistema bancário nem na moeda do país: a poupança do casal é em dólares, escondida dentro de casa. "Depois de 2001, não confiamos em banco." Apesar de não terem vivido a última grande crise argentina, jovens também veem com desconfiança o pedido de ajuda ao FMI. Magali Kerzenblat, de 20 anos, estudante de Ciências Atuariais, afirma achar arriscada a medida, pois o empréstimo do fundo virá com exigências em relação à economia da Argentina - possivelmente, metas para a dívida pública. "Nossa independência externa pode ser prejudicada." A estudante de contabilidade pública Estefania Pingarro, de 22 anos, acredita que o momento atual da economia argentina é diferente do de 2001, mas lembra que há uma espécie de trauma no país. "Essa tensão (da população) tem a ver com nossa história. Sempre que fizemos uma dívida com o FMI, nos demos mal." Estefania não se lembra da crise de 2001, que levou 57,5% da população à pobreza. Tinha apenas cinco anos quando a Argentina deu um calote de cerca de US$ 100 bilhões - um dos maiores da história -, mas sabe que seus pais perderam tudo o que tinham poupado até então: o suficiente para comprar um imóvel. A compra da casa própria teve de ser adiada por 10 anos. A estudante, que ainda é professora de hóquei, também já poupa em dólares.

Fonte: jcrs.uol.com.br/_conteudo/2018/05/economia/627038-crise-argentina-pode-reduzir-exportacoes.html

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